Impactos da cirurgia bariátrica na saúde bucal dos indivíduos

Resumo

Introdução: A obesidade foi vista ao longo da história como sinal de saúde, beleza e poder, mas hoje é classificada como uma doença crônica não transmissível, que se deve a fatores como alterações no estilo de vida, distúrbios metabólicos, fatores genéticos e consumo de alimentos industrializados e bebidas açucaradas. Isso pode gerar diversos problemas de saúde, como erosão dentária, xerostomia, hipersensibilidade dentinária, entre outros. Por isso, é necessário um tratamento multiprofissional para tratar a obesidade, incluindo o cirurgião dentista para prevenir e tratar os problemas bucais dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. Diante disso, o presente trabalho pretende demonstrar quais os impactos perante a saúde bariátrica na saúde bucal. Objetivos: Identificar as diversas alterações bucais em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, ressaltando a importância da integração do cirurgião dentista na equipe multidisciplinar. Metodologia: Foi realizada uma revisão de literatura por meio de uma busca nas bases dos periódicos Capes, PubMed, SciELO, MEDLINE, ProQuest, IOB online e Biblioteca Virtual. O recorte temporal para realização da pesquisa baseou-se nas pesquisas publicadas na última década (2013-2023). Para obtenção dos artigos foram utilizadas as palavras-chave: Obesidade, Odontologia, Equipe de Assistência ao Paciente e Saúde Bucal, os quais foram empregadas em associação, para delimitar melhor os resultados de busca. Resultados: A obesidade é considerada uma epidemia mundial, com 1,9 bilhões de adultos com sobrepeso e 650 milhões de obesos. No Brasil, 53,8% da população está com excesso de peso e a Organização Mundial da Saúde (OMS) usa o Índice de Massa Corpórea (IMC) para classificar sobrepeso a partir de 25kg/m² e obesidade a partir de 30kg/m². Esta doença é multifatorial, coloca em risco a saúde e necessita de tratamento multidisciplinar, com mudanças na dieta, uso de medicamentos, acompanhamento psicológico e, para casos mais graves, cirurgia bariátrica. A cirurgia bariátrica pode provocar agravamento de diversas condições bucais, como aumento da gengivite e periodontite, desgaste dentário e cárie. Estudos mostraram que 80% dos pacientes referiram refluxo e 60% xerostomia, enquanto apenas 20% dos interrogados não apresentavam nenhuma alteração. Porém, o aumento na periodicidade da alimentação pode resultar em um aumento do risco de cárie dentária nesses pacientes. A má-absorção ou ingestão insuficiente de nutrientes como ferro, folato, cálcio e vitaminas, como a vitamina B12, constituem um dos principais problemas da cirurgia bariátrica, sendo a deficiência de vitamina D e cálcio as que afetam diretamente o metabolismo ósseo à nível sistêmico, sendo assim, também de interesse odontológico. A doença periodontal é uma das condições bucais mais prevalentes que é agravada nos pacientes bariátricos devido à obesidade, que libera proteínas pró-inflamatórias. Esta pode se manifestar como gengivite, com sintomas como vermelhidão, edema e sangramento, que pode progredir para periodontite irreversível, causando bolsas periodontais profundas. Além disso, a baixa absorção de cálcio pode levar ao hipertireoidismo secundário, resultando em fraturas e perdas dentárias. A erosão e o desgaste dentário são causados por uma combinação de fatores químicos, biológicos e comportamentais. Essa erosão ocorre quando ácidos não microbianos entram em contato com os dentes, causando a desmineralização do esmalte. Esse processo pode ser revertido pela saliva, mas exposição prolongada aos ácidos e diminuição da produção salivar podem levar a uma perda irreversível do esmalte. Em pacientes bariátricos, a erosão é principalmente causada pelo refluxo gástrico e vômitos frequentes. O ácido estomacal tem um pH baixo, que pode desmineralizar os dentes. Além disso, a cirurgia bariátrica pode causar alterações na composição da saliva, resultando em um pH oral reduzido e maior susceptibilidade à cárie. Outra questão significativa é a xerostomia, também conhecida como boca seca. No entanto, a redução na produção salivar é uma consequência possível da cirurgia bariátrica e pode contribuir para problemas dentários, como cáries e desconforto oral. A xerostomia também pode desencadear uma série de outros problemas, incluindo dificuldade na fala, deglutição e digestão de alimentos. A hiperssensibilidade é principalmente consequência do avanço da desmineralização/erosão dentária. São caracterizadas por um quadro de episódios álgicos agudos e de curta duração, desencadeados por estímulos térmicos, osmóticos ou químicos. Essa manifestação é devido a erosão do esmalte, ocorre uma exposição dos túbulos dentários abertos, provocando uma mudança na sua hidrodinâmica. A perda dentária e a necessidade de reabilitação protética são influenciadas pela doença periodontal e pela cárie, que aumentam o risco de perda dentária. Contudo, a reabilitação protética pode melhorar a capacidade de mastigação em pacientes totalmente ou parcialmente edêntulos. Além disso, um estudo mostrou que a cirurgia bariátrica pode ter repercussões na saúde bucal, como a diminuição de células diferenciadas e o aumento de células binucleadas, características que podem indicar um maior risco de células mutagênicas. Considerações finais: A cirurgia bariátrica tem efeitos na saúde bucal, incluindo problemas periodontais, lesões cariosas, alterações do pH oral, xerostomia e modificações na microbiota oral. Estes efeitos podem levar a infecções, necessidade de exodontias e redução da qualidade de vida. Uma abordagem multidisciplinar para pacientes submetidos à cirurgia bariátrica é crucial para abordar todas essas implicações na saúde bucal, pois a colaboração entre cirurgiões bariátricos e dentistas é essencial para monitorar e mitigar os efeitos adversos na cavidade oral. O acompanhamento odontológico adequado pode ajudar na prevenção, diagnóstico e tratamento de problemas dentários e periodontais que podem surgir após a cirurgia. No entanto, a cirurgia bariátrica tem implicações significativas na saúde bucal devido às mudanças metabólicas e sistêmicas que desencadeia. A compreensão dessas implicações e a integração do cuidado odontológico são vitais para garantir a saúde bucal a longo prazo de pacientes submetidos a esse procedimento.