As vivências de uma preceptora na residência multiprofissional e seu papel na formação em saúde
DOI:
https://doi.org/10.61217/rcromg.v22.446Palavras-chave:
preceptor, residência multiprofissional, Sistema Único de SaúdeResumo
Introdução: A Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF) é ofertada em nível de pós-graduação Latu Senso, para formação de profissionais de saúde graduados. É considerado um instrumento de formação profissional voltado para atuação no Sistema Único de Saúde (SUS) e tem como proposta a formação em serviço. A atuação no cenário de prática está ligada ao cotidiano do processo de trabalho orientados pelos princípios e diretrizes do SUS e a partir das necessidades encontradas em campo. A RMSF está constituída por oito grandes áreas de formação: Educação física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Odontologia, Psicologia e Serviço Social conforme as exigências da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde, possui uma carga horária total de 5.760 horas, é desenvolvida em regime de tempo integral e dedicação exclusiva, com carga horária de 60 horas semanais, entre disciplinas teóricas e práticas. As mudanças nos cenários de práticas e educação são constantes, os paradigmas da ciência passam por transformações exigindo que o profissional, acompanhe tais mudanças e que seja capaz de articular teoria e prática. O planejamento da ação pedagógica consiste no trabalho da preceptoria e no encontro diário com os residentes, onde se avalia o desenvolvimento de atividades, realizando alterações pertinentes em seu planejamento. O planejamento precisa ser relacionado com a complexidade e a diversidade de problemas e necessidades de saúde que acometem a população, pois essas questões aparecerão nas demandas do usuário ao buscarem assistência no serviço público e consequentemente na assistência ofertada pelos residentes. O preceptor deverá, preferencialmente, ser da mesma área profissional do residente sob sua supervisão, ter no mínimo título de especialista, devendo promover a integração entre os diferentes profissionais em formação, destes com a equipe de saúde, com a população e com os demais serviços. Nesse contexto, é fundamental que os profissionais que exerçam a preceptoria tenham perfil de atuação pautado na ética, no pensamento crítico, reflexivo, humanista e que sejam capacitados a formar profissionais em serviço, com visão crítica do seu papel social como educador. Objetivo: Relatar as vivências e percepções de uma preceptora cirurgiã-dentista atuante na Estratégia Saúde da família (ESF), do município de Governador Valadares/MG. Atividades desenvolvidas: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência sobre as vivências de uma cirurgiã-dentista preceptora, integrante de um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, que realiza a supervisão direta das atividades executadas pelos residentes da área de Odontologia, em uma Unidade de Saúde da Família, de um município mineiro, no período de março de 2020 à dezembro de 2022. As atividades da residência iniciaram-se em março, durante a pandemia, constando a carga horária de 5.760 horas de dedicação exclusiva, entre teoria e prática. Os cenários de atuação foram em 18 equipes da Estratégia Saúde da Família, e as vivências deste relato se refere ao trabalho desenvolvido em uma Unidade Saúde da Família. Foram desenvolvidas várias atividades pela preceptora tais como, capacitação e educação continuada visando subsidiar o processo de trabalho na atenção primária à saúde; investimento em práticas mais humanizadas e resolutivas em ambiente acolhedor; estímulo ao desenvolvimento de aprendizagem no contexto interprofissional; atuação em cenários clínicos diversificados, visando a aquisição de experiência com trabalho em equipe e de compartilhar conhecimentos especializados com os demais profissionais que integram as equipes da rede de atenção à saúde. Com isso, aprenderam como canalizar os recursos nos diferentes ambientes de atuação em prol da atenção à saúde mais qualificada, e melhor preparo dos profissionais para atuarem no Sistema Único de Saúde. Além de ter fomentado a participação dos residentes em eventos e congressos. Resultados: As experiências vividas pela preceptora mostraram que no desenvolvimento do processo de trabalho o planejamento nem sempre é uma ferramenta valorizada, e isso dificulta a reflexão acerca das práticas do ensino aprendizagem, consequentemente a formação dos residentes é pouco potencializada. Observou-se que em várias oportunidades a prioridade maior ainda está em realizar a assistência, com a mesma ocupando grande parte do tempo, deixando o planejamento em segundo plano. Outro ponto importante foi o aprendizado com a pandemia, onde evidenciou-se a importância e a necessidade de se trabalhar junto à equipe multiprofissional e em especial de forma interprofissional, onde a colaboração entre diferentes profissionais foi fundamental no apoio à equipe da atenção primária, o que possibilitou a resolução de casos complexos, por meio de respostas criativas, inovadoras e integradas. Em relação ao preparo do preceptor, é necessário que o mesmo seja qualificado para o exercício desta função, uma vez que desempenha funções didáticos pedagógicas visando potencializar as habilidades e competências que os residentes precisam desenvolver. No entanto, nem sempre contam com apoio institucional e com a devida valorização e incentivo dos gestores para o desenvolvimento desta função. Uma vez que o trabalho que desenvolvem não é apenas técnico assistencial, necessita-se estar qualificado para priorizar um processo de trabalho interdisciplinar e multiprofissional, e na perspectiva interprofissional. O preceptor tem papel estratégico na formação de profissionais de saúde comprometidos com o SUS, e que valorizam o trabalho em equipe.Conclusão: Pode-se concluir que o preceptor deve ter uma postura ativa, fazer a autoavaliação, buscar a implementação de mudanças necessárias e contínuas na condução do processo de ensino e aprendizagem dos residentes, com ênfase na qualidade da formação, bem como, ser qualificado para atuar como mediador do processo de formação dos residentes. A atuação da residência multiprofissional proporcionou mudanças no processo de trabalho das Estratégias Saúde da Família, e se configura como oportunidade singular para uma atuação interprofissional centrada no usuário, contribuindo para qualificar a assistência. Mostra também que, a integração ensino, serviço e comunidade fortalece o sistema de saúde no enfrentamento das adversidades.
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